terça-feira, 20 de agosto de 2013

Sexualidade infantil - Parte I


“É como um traço (e)terno na finitude que a sexualidade se faz presente na experiência humana, desde o nascimento do indivíduo até sua morte. Uma dimensão da existência que não tem idade, que está presente em todo o viver (CARIDADE, 1996)”.

Com a concepção de Freud que o desenvolvimento psicossexual e o da personalidade do indivíduo, ocorrem a partir do conceito da libido, o qual é de difícil definição, por que não é unívoco, pois o próprio Freud, enquanto desenvolvia sua teoria, o conceito de libido adquiria significações diversas. “Inicialmente, Freud empregou o termo libido, que em latim quer dizer desejo, vontade, para designar uma energia própria da pulsão sexual, manifesta na vida psíquica” e ao longo da sua obra,  passou a considerar, em termos genéricos, a libido como “todas as pulsões responsáveis por tudo o que compreendemos sob o nome de amor.” (ZIMERMAN, 2001). Em outras palavras, a libido seria a energia que está a disposição dos impulsos de vida ou sexuais, isto porque até então, considerava-se a sexualidade, de uma forma restrita, como um conjunto de atos e falas, ligados exclusivamente à relação sexual ou ao coito propriamente dito e em especial à reprodução. Quanto ao significado do termo sexual, inicialmente definindo-o como uma pulsão, portanto inato, que visava  à preservação da espécie, diferentemente da pulsão de auto- conservação, tendo posteriormente unificado as duas sob o nome de pulsões de vida.
         

O conceito de Sexualidade Infantil, introduzido por Freud (1905), com a edição dos Três Ensaios sobre Sexualidade, quando a partir de observações de crianças que amamentavam no peito, que na realidade define uma linha de continuidade sexual, desde a infância até a maturidade; numa época na qual se pensava ver um aparecimento súbito, quase sem antecedentes da sexualidade, por ocasião da puberdade.
 Freud observou que as crianças após sentirem satisfeita sua fome (impulso de auto-conservação), elas continuavam a sugar o peito, o dedo, ou a mão, demonstrando desta forma, que poderia haver demanda interna ainda não satisfeita, ou seja, que para além da satisfação de uma pulsão de auto – preservação surgia uma busca pelo prazer e que este precisaria de outras atitudes para a sua resolução, p. ex continuar sugando, movimentos musculares, etc. Esta demanda extra, que nesta etapa se liga à amamentação, vai se modificando ao longo do tempo até chegar à forma reconhecível na sexualidade do adulto.
Destas observações surgiu à diferenciação de dois instintos:
a)                 Instintos(pulsões) de autoconservação:  que têm objetivos determinados (no caso da amamentação, o leite) e como característica marcante, a de ter satisfação imediata, não poder ser adiada por questões de sobrevivência;
b)                 Instintos(pulsões) sexuais: como característica não apresentam objeto específico para sua satisfação, variando de acordo com o momento, a necessidade que pode ser a pele, movimentos rítmicos do balançar, sons (o ato da cantarolar p/ criança); como se observa, não há premência imediata para sua satisfação, podendo ser desenvolvida, pois não está envolvida a sobrevivência do indivíduo, com também ser eventualmente reprimida.
Dentro de conceituação Freudiana, existem componentes orgânicos na sexualidade infantil, mas o que a caracteriza fundamentalmente é o carinho, o afeto, a dedicação maternal para com a criança, estabelecendo assim simbolizações. O importante aqui não é o tipo de alimento dado e sim como ele é oferecido. As vicissitudes destas pulsões em busca de satisfação serão fatores importantes na estruturação da personalidade da criança, a qual poderá se desenvolver de modo mais equilibrado, saudável ou não. Quero enfatizar o conceito de psicossexualidade introduzido por Freud, no qual se vislumbra o desenvolvimento sexual do ponto de vista biológico, com suas modificações durante o crescimento da criança, a ocorrer “pari passu” com o desenvolvimento da personalidade desta. Assim ele vai relacionar determinadas características de personalidade e de comportamentos do adulto, a determinadas características das fases do desenvolvimento sexual da criança.
 Percebe-se também, uma diferença fundamental da sexualidade infantil com a adulta, ou seja, naquela a ausência quase completa de genitalidade; e mesmo assim podemos considerar, no sentido do desenvolvimento da personalidade, a sexualidade adulta como uma continuação direta daquela (infantil), e esta visão evolutiva da psicossexualidade, nos ajuda a compreender melhor que a reprodução, realmente pode não ser o objetivo único e  final da sexualidade adulta .